sexta-feira, 15 de maio de 2009

Caminho Francês de Santiago



Os Caminhos de Santiago são os percursos percorridos pelos peregrinos que afluem a Santiago de Compostela desde o Século IX para rezar no túmulo do Apóstolo Tiago. Estes são chamados de Peregrinos, do latim "Per Agros", "aquele que atravessa os campos".
Têm como seu símbolo uma concha, normalmente uma vieira designada localmente por "venera", costume que já vinha do tempo em que os povos ancestrais peregrinavam a Finisterra.

Os caminhos espalham-se por toda a Europa e vão todos desaguar aos caminhos franceses que posteriormente se ligam aos espanhóis, com excepção das várias vias do Caminho Português, que têm origem a sul, e do Caminho Inglês que vinha do norte. A Basílica de Santiago de Compostela é o ponto final dos Caminhos de Santiago.


O Caminho de Santiago entrou na história há doze séculos, quando foram encontrados os restos mortais do apóstolo, São Tiago, ou Santiago, na que hoje é a cidade de Santiago de Compostela.

É a única rota no mundo que não foi formada por motivos comerciais.

O chamado Caminho Francês, que absorve a maioria dos caminhos vindos do continente europeu inicia-se em St. Jean Pied de Port na França, entrando em Espanha por Roncesvalles, no sopé dos Pirenéus, e de lá segue em cerca de 800 km até chegar a Santiago de Compostela.

É o nosso destino...

É um caminho longo que resolvemos partilhar neste blogue com familiares, amigos e todos aqueles que o quiserem visitar quer por curiosidade, quer porque estejam interessados em desafios semelhantes.

Será um testemunho daquilo que aprendemos, das dificuldades, das soluções que encontramos, da forma como nos organizamos, dos apoios que tivemos e também um registo das etapas que ainda esperamos percorrer.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O nosso Caminho - O início...

As nossas Motivações

"O interesse pelo Caminho de Santiago surgiu já há muitos anos e foi crescendo até que em Setembro de 2005 e em consequência de um desafio surgido num almoço de família fiz o Caminho Português.

Foi um sonho que se realizou e foi a semente para um sonho ainda maior: Realizar o Caminho Francês. Apesar de parecer impossível pela sua grandeza e dureza e também por não encontrar ninguém para me acompanhar (o que me parecia uma condição essencial) a semente foi germinando.

Conversei com várias pessoas, li diferentes testemunhos, recolhi o máximo de informação possível, intensifiquei os treinos para tentar avaliar as minhas capacidades, procurei avaliar globalmente as necessidades logísticas até que, depois de muitas dúvidas, tomei a decisão de o realizar sozinho, em autonomia total, em Junho/09.

Só muito recentemente, quando já não colocava a hipótese de ter companhia, encontrei um amigo, o Marco Magalhães que desafiei na altura do meu aniversário e que com alegria minha aceitou o convite. Desde então temos partilhado os treinos e juntos reformulámos alguns aspectos logísticos para uma viagem a dois.

São várias as motivações que me levaram até ao Caminho de Santiago, tanto religiosas como culturais.

O Caminho pressupõe um superar de dificuldades e uma peregrinação que é também interior, um tempo que será de reflexão e que tem para mim um significado especial no ano em que completo 50 anos.

A partir do dia em que tomei a decisão iniciei "o meu caminho" ."


Amândio Rodrigues




"É muito difícil tentar explicar o que me leva ao Caminho de Santiago. Não sei bem porquê, mas tal como eu, milhares de pessoas percorrem todos os anos a viagem com destino ao Norte de Espanha. Durante vários dias, sob sol ou chuva, frio ou calor, homens e mulheres de todo o mundo partem das suas cidades em busca da terra sagrada na capital da Galícia.

Todos os anos surgia a vontade de fazer o Caminho, mas por esta ou aquela razão, acabava sempre por adiar a travessia. No entanto, e em Janeiro de 2009, uma simples pergunta mudou o rumo dos acontecimentos: "Queres vir?"

Tão ou mais importante que o planeamento de uma etapa destas exige, é o ter um parceiro à altura.
Confesso que nunca me entusiasmou a ideia de fazer o Caminho sozinho, porque para além de todas as dificudades e superação interior que ele pressupõe, é também um momento de alegria e amizade. E quem melhor do que os verdadeiros amigos para nos acompanharem ao longo de vários dias de jornada..
Mas quem sabe um dia não o farei sozinho...e a pé...

Curiosidade, misticismo, desafio interior ou simplesmente aventura, todas as motivações são válidas. O mais importante é senti-lo.

O Caminho é assim mesmo. Nunca é igual para todos. Esta lá a rota bem marcada, mas cada um percorre-o à sua maneira.

Tal como o meu amigo Amândio, apartir do dia em que tomei a decisão, iniciei o meu próprio caminho..."


Marco Magalhães

domingo, 10 de maio de 2009

Bicicleta e Trolley

Com o aproximar da data da partida, no inicio deste ano tive que tomar uma decisão difícil avaliando as dificuldades: cadáver com 50 anos, upgrade à bicicleta (substituição da transmissão e da suspensão), estimando prós e contras do investimento e do beneficio. Depois de consultar várias opiniões, optei por substituir a minha saudosa “Pratinha” (Trek 6500), por uma KTM Lycan 2.0.

Já fiz cerca de 900 km com a “Silver” e não tenho nenhuma reclamação. Na opinião do Coelho, foi o casamento perfeito.
O Equipamento é composto por um Quadro KTM de alumínio com 12kg, transmissão Shimano XT, suspensão a ar Fox 32RL de 120 mm á frente e Fox RP 23 c/propedal atrás. Um maquinão!!!

Quanto ao Marco, optou inicialmente por levar a sua montada do costume: uma KTM Team LC, quadro de carbono e equipamento à altura: Shimano XT/XTR. Apesar do carbono não ser o material mais indicado para este tipo de aventura, a qualidade do mesmo proporciona o conforto mínimo.

Trata-se de uma bicicleta rígida (só com suspensão à frente) de 10kg, mais virada para a competição mas que percorre na perfeição todos os desafios que lhe são colocados à frente. Dois maquinões !!!

Infelizmente e por motivos que se prendem com a impossível colocação do atrelado de viagem na KTM, vai ter que levar uma outra bicicleta, desta feita uma Merida de alumínio. Não faz mal...quer uma quer outra são fantásticas e, quando as pernas ajudam e a alma é imensa, até o São Tiago colabora.

Com a escolha das bicicletas ultrapassada colocava-se a questão do transporte do equipamento. O suporte clássico com alforges, não é de colocação muito prática neste tipo de bicicletas e os suportes para o espigão têm tendência a partir.

Perante esta dificuldade, pesquisei na net várias soluções, tendo optado pelo equipamento da Extrawheel (Polónia), porque do meu ponto de vista reunia em simultâneo a facilidade de montagem, leveza, resistência, impermeabilidade dos sacos e facilidade de controlo na condução. Acresce que a Extraweel, me ofereceu um simpático patrocínio que resolveu definitivamente a minha decisão.

O meu companheiro de viagem leva também um atrelado, um Weber Monoporter com caracteristicas diferentes do Extrawheel, mas com qualidade semelhante. Deste modo, conseguimos obter mais espaço para levar carga e trazer kg de emoções.
Obrigado João Marinho !

sábado, 9 de maio de 2009

Os treinos

O esquema que definimos para nos prepararmos para o Caminho, teve por base andar sempre que possível, basicamente aos Sábados, Domingos e Feriados, e nunca menos de 50km. Os finais do dia também eram aproveitados para fazer mais alguns km, em ritmo mais elevado por forma a aproveitar a luz solar.

Com o aproximar da data da partida e com a entrada do Inverno, decidi inscrever-me num Ginásio próximo de casa, onde fazia Spynning, 2/3 vezes e musculação 1/2 vezes por semana. Ao Sábado dava um prémio ao cadáver, corria, fazia spinning, nadava e terminava com um turco. Que maravilha!

O Marco, esse mais habituado a provas de resistência e participações em diversas Maratonas, treinava sempre que possível e juntos elaboravamos o melhor método de treino para os nossos objectivos. Além de treinar e trocar algumas impressões sobre a viagem, aproveitavamos esses momentos para reforçar a amizade. E isso é o que mais queremos.

Embora não seja condição essencial uma excelente preparação física, há que afinar o corpo para uma habituação de uma média de 60/70km diários. Tenho em mim, que a parte psicológica é talvez mais importante que a questão física.

A partir de Novembro o Marco e o Sousa organizaram umas sessões de montanha em Valongo, sempre a subir e com muita pedra, para ficarmos preparados para a parte mais “hard” do caminho.

Com o decorrer dos dias, aumentamos progressivamente as deslocações e fomos mesclando os percursos de estrada com monte. Começamos a percorrer o Caminho Português de Santiago até Braga e regressavamos de comboio. Fiz esta versão várias vezes, mas achei que o regresso era demasiado turístico para um aventureiro. Assim, a partir de Março deste ano, alteramos esse formato, e passamos a ligar Famalicão (Cruz do Pelo) à Póvoa, V. Conde, Labruge, Leça, Matosinhos e Srª Hora (+/- 110 km). Depois ter feito este percurso várias vezes sozinho partilhei-o com o Marco e com o Sousa que adoraram.
É um percurso excelente porque simula na perfeição uma etapa do Caminho. No mesmo percurso tem estrada, caminho rural e vários tipos de dificuldade em montanha e a paisagem é muito bonita.
Pela minha parte, estava tudo perfeito até que, numa sessão de ginásio resolvi exagerar nos treinos de musculação e na máquina de pernas decidi carregar nos pesos e nas séries. Em vez de séries de 20, fiz nesse dia, séries de 40/45. O joelho esquerdo não gostou da experiência. Resultado, com a continuação dos treinos de bicicleta as dores agravaram-se e tive necessidade de recorrer a apoio médico: paragem forçada, muito gelo em cima do dito e não sei se comprometi a peregrinação… espero que não. Esta combinação de joelho de ciclista e cabeça de Iron Man, não resultou muito bem.

Que o Santo esteja connosco...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Material e Acessórios


Todos nós sabemos que qualquer atleta que peça ao seu corpo o esforço exigido nas várias horas e vários dias em que estamos a pedalar, sujeita o físico a um desgaste que deve ser prevenido e recuperado através da utilização de uma constante hidratação e uma correcta alimentação.

Apesar de nesta travessia não existir o carácter competitivo (longe disso) é importante não descurar esta vertente, o que fará com que diariamente possamos potenciar as nossas forças e mais facilmente recuperá-las. Assim, levamos connosco alguns sólidos e liquidos e que certamente nos ajudarão a ultrapassar algumas dificuldades.
Comer antes de ter fome e beber antes de ter sede deverá ser sempre o lema de quem quer chegar mais além. Assim o faremos.


















Adicionalmente, é de extrema importância ir prevenido para os possíveis incidentes mecânicos. Não vale a pena levar a oficina às costas, mas convém estar preparado para rapidamente poder resolver um azar que possa por em causa a continuidade da expedição.



Toda a suplementação, nutrição e material de substituição a levar para a viagem foi gentilmente cedida por Bicicletas Coelho. A eles confiamos a preparação das nossas montadas e a eles agradecemos todo o apoio.


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Logistica

O Caminho Francês de Santiago tem início em St. Jean Pied de Port nos Pirinéus Franceses. Para nos colocarmos lá, várias hipóteses eram possíveis com implementações mais ou menos difíceis e dispendiosas.
Pensamos em ir de comboio mas apontamos vários inconvenientes. Desde logo, o preço das viagens e o facto de termos que fazer vários transbordos, o que se tornava impraticável dado que não seria fácil "montar e desmontar a tenda" várias vezes. Outra solução seria apelar ao coração da família e pedir que uma alma caridosa nos fosse lá levar...Humm, é complicado. A viagem é longa e ainda haveria o retorno até Portugal.
Optamos então pela solução ideal. Boleia sim, mas de um camionista!

Numa rápida consulta de mercado, não foi difícil identificar o melhor e mais conceituado Gestor de Logística que conheço, com reconhecidas provas dadas (levou-me ao avião para a Lua de Mel): O Dionísio Silva.

Contactado, respondeu-me de imediato, “treina-te e deixa isso comigo”. Quando tivemos de o contactar novamente para ampliar o número de peregrinos, respondeu de novo com a máxima simpatia.

É fácil quando se tem amigos deste calibre.

Assim, vamo-nos deslocar a bordo de um equipamento Volvo, que nos irá garantir a deslocação até ao início da nossa expedição, no máximo conforto.

Dia 1 Junho de 2009, Saint-Jean-Pied-de-Port espera por nós...


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pedra Cruz de Ferro

Desde à séculos que os peregrinos depositam uma pedra na base da Cruz de Ferro, simbolizando com este gesto o esforço na peregrinação e para que no dia em que o Criador julgar os nossos actos, esta sirva para inclinar a balança em favor das nossas boas acções.













Pedra para deixar na Cruz de Ferro, decorada pelos sobrinhos (Francisca, Lourenço, Maria e Henrique)


Amândio Rodrigues




"Papá, toma...esta é a tua péda pessiossa...". Não resisti...
Após vários dias a tentar encontrar a melhor pedra, aquela com o tamanho ideal, o peso certo e a forma adequada, e a Mafalda conseguiu num espaço de 1 minuto resolver o meu problema.
Tem a dimensão de um botão mas ergue-se como uma rocha. Tem forma indefinida mas está repleta de amor. Pesa menos que 1 grama mas carrega a emoção de uma vida.
Não se trata de mais uma pedra mas A pedra. Escolhida pela minha filha, abençoada pela minha mulher.
A minha família estará sempre comigo...


Marco Magalhães